Por que os Correios precisam de 20 bi em empréstimos para sobreviver
Estado financeiro dos Correios exige empréstimo bilionário e preocupa governo com impacto nas contas públicas.

O Correios vive um momento delicado e busca captar R$ 20 bilhões em empréstimos, medida que acende alertas sobre o impacto nas contas públicas. A estatal enfrenta dificuldades estruturais há anos, resultado de problemas de gestão, mudanças no modelo de negócio e a queda de receita com o transporte de correspondências e encomendas internacionais. Para analisar essa situação, conversamos com Murilo Viana, mestre em finanças públicas pela Unicamp, que explicou os desafios dessa operação.
Segundo Murilo, a operação é viável, mas apresenta riscos fiscais significativos. “O Correios possui uma estrutura de custos muito elevada, com presença nacional e manutenção de uma rede ampla, o que dificulta o equilíbrio financeiro. Além disso, o crescimento do setor privado nas entregas rápidas, conhecido como serviço de última milha, e alterações na tributação de encomendas internacionais reduziram receitas importantes da estatal”, afirmou.
O empréstimo, segundo especialistas, não resolve a questão estrutural. Ele pode fornecer alívio financeiro de curto e médio prazo, mas sem uma reestruturação profunda do modelo de negócio, a empresa corre risco de continuar endividada e transferir parte desse risco para o Tesouro Nacional. Além disso, a operação envolve garantias da União, algo incomum para uma estatal federal, o que levanta discussões sobre legalidade e conformidade com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Murilo Viana destacou que o processo exige autorização detalhada do Senado e análise cuidadosa, já que garantir crédito para uma empresa estatal difere de operações tradicionais com estados e municípios. “Sem ajustes estruturais, há o risco de o Tesouro precisar assumir parte do crédito, comprometendo a meta fiscal do governo e adicionando pressão sobre o orçamento federal”, explicou.
O especialista também comentou sobre alternativas ao empréstimo. Uma capitalização direta pelo Tesouro poderia reequilibrar as contas, mas impactaria o limite de despesas e exigiria ajustes em outras frentes do governo. Por isso, a opção por empréstimo com garantia federal foi escolhida, permitindo acesso ao crédito sem afetar diretamente o orçamento público.
Para que o Correios consiga superar a crise, Murilo ressalta que é necessário mais do que dinheiro: “A estatal precisa de uma mudança profunda no funcionamento e no modelo de negócios, além de novos vetores de receita para garantir sustentabilidade. Sem essas medidas, a dívida continuará a ser um desafio”. O cenário exige atenção, já que decisões estratégicas tomadas nos próximos meses definirão se a empresa conseguirá honrar seus compromissos e se manter relevante no mercado de logística.