Por que os presidentes militares nunca deram certo no Brasil

Ao longo da história, todos os presidentes militares brasileiros fracassaram, deixando rastros de autoritarismo, crises e instabilidade.

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As elites brasileiras parecem incapazes de aprender com os erros do passado. Desde a Proclamação da República, o Brasil teve dez governos militares, todos marcados por autoritarismo, censura, crises econômicas e repressão social. O caso mais recente, o do capitão Jair Bolsonaro, apenas reforça esse padrão histórico: mesmo sem farda, manteve o espírito de caserna, com discursos agressivos, desprezo às instituições e idolatria a torturadores.

A lógica do militar no poder é simples: transformar o país em um quartel, onde ele manda e o povo obedece. Quando a obediência não vem, a resposta é repressão. Assim foi com Bolsonaro e com todos os presidentes militares anteriores. Mesmo diante desse histórico de fracassos, as elites insistem em apostar em novos nomes saídos das fileiras do Exército, como Tarcísio de Freitas, que segue o mesmo molde de formação rígida e vocabulário limitado, com governo de viés autoritário e repressivo.

A história brasileira comprova que o militarismo político gera instabilidade. O marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente da República, chegou ao poder por meio de um golpe e governou com poderes centralizados, fechando o Congresso e censurando jornais. Seu sucessor, Floriano Peixoto, conhecido como “Marechal de Ferro”, manteve o estado de sítio e reprimiu duramente revoltas, consolidando a tradição autoritária. Já Hermes da Fonseca, na Primeira República, enfrentou crises e revoltas populares, respondendo com violência e censura à imprensa.

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Décadas depois, o marechal Eurico Gaspar Dutra também mostrou a mesma rigidez. Seu governo (1946–1951) reprimiu sindicatos, fechou cassinos e cassou o Partido Comunista. E, entre 1964 e 1984, os cinco generais que governaram o país mergulharam o Brasil em duas décadas de repressão, censura e atraso econômico.

Pesquisadores como José Murilo de Carvalho, Ana Amélia Penido Oliveira e Paulo Ribeiro da Cunha apontam que a formação militar brasileira — focada em obediência e combate ao “inimigo interno” — é incompatível com a lógica democrática. Segundo Oliveira, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) forma oficiais preparados para a guerra, mas despreparados para a política. Carvalho acrescenta que os militares vivem em um “isolamento cognitivo”, incapazes de dialogar com a sociedade civil.

Estudiosos estrangeiros, como Jessica Weeks e Peter Stirk, também reforçam que regimes militares tendem ao fracasso por causa de sua estrutura hierárquica e aversão à pluralidade. São governos que veem adversários como inimigos, e não como opositores legítimos, o que leva à erosão das instituições e à perda de legitimidade.

Desde Deodoro da Fonseca até Bolsonaro, todos os presidentes de origem militar deixaram o país em crise, sem entregar nem ordem nem progresso. Se as Forças Armadas realmente desejam contribuir com o Brasil, seu papel deve se restringir à defesa das fronteiras e à proteção do território, e não à ocupação do poder político.

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