Produtor rural precisa lucrar para preservar, afirma ceo da upl

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Produtores rurais não preservarão o meio ambiente e reduzirão emissões apenas por ideologia ou apreço à natureza. A afirmação é de Jai Shroff, CEO global da UPL, empresa do setor de defensivos agrícolas, que ecoa um discurso recorrente do setor privado durante a COP30, sobre a importância da transição para uma economia de baixo carbono.

De acordo com Shroff, para que os produtores se dediquem à preservação, é necessário criar um sistema que os recompense financeiramente pelo trabalho extra que essa atividade exige. Ele ressalta que, até o momento, a exigência tem sido que os agricultores salvem o planeta, sem a devida contrapartida.

Em entrevista, após retornar de uma semana de compromissos em Belém, o CEO da UPL argumentou que o incentivo financeiro não precisa ser um investimento de grande escala. Ele acredita que mesmo um valor considerado baixo para o setor, como US$ 25 (equivalente a R$ 133) por hectare, pode gerar uma mudança significativa no comportamento dos produtores.

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Durante a COP30, Shroff e a UPL buscaram destacar o papel dos produtores como “heróis”. Essa estratégia foi refletida tanto em suas declarações em painéis e entrevistas, quanto em uma campanha publicitária com o slogan “O herói que você não sabe que precisa”. O objetivo é valorizar o trabalho de cerca de 1 bilhão de agricultores em todo o mundo na produção de alimentos e alterar a percepção sobre sua participação na crise climática.

Shroff cita como exemplo o produtor brasileiro Valter José Potter, da Vinícola Guatambu, no Rio Grande do Sul, que utiliza energia solar para suprir 100% da demanda da fazenda. Segundo a UPL, iniciativas como essa permitem produzir vinho com emissões de carbono equivalentes negativas, ou seja, a operação sequestra mais gases do que emite.

O CEO da UPL avalia que o agronegócio ganhou relevância nesta edição da COP em comparação com as anteriores, mas considera que ainda não é suficiente. Ele sugere a criação de uma COP exclusiva para a agricultura, argumentando que os produtores rurais, além de alimentarem a população mundial, podem liderar a transição ambiental. A mensagem central, segundo ele, é que os chefes de estado dialoguem com seus agricultores, pois existem inúmeras histórias de heroísmo a serem contadas.

Shroff defende que o apoio financeiro para a transição da agricultura pode ser realizado por meio de juros subsidiados pelo governo. Ele sugere que bancos públicos, como o BNDES, poderiam oferecer taxas de juros mais baixas para produtores que reduzem suas emissões. Ele acredita que o apoio dos bancos privados é menos provável, pois eles consideram o setor muito arriscado e carecem de conhecimento para avaliar os riscos adequadamente.

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Para auxiliar no financiamento, a UPL tem divulgado iniciativas que viabilizam seguros acessíveis para produtores em regiões vulneráveis, como Índia, África e América Central. Um exemplo é o apoio do Banco Mundial a cerca de 6 mil produtores de arroz na Guiana para contratarem “seguros climáticos paramétricos”. Nessa modalidade, o pagamento do seguro é automático quando determinados níveis de chuva, vazão de rios ou velocidade do vento são ultrapassados, agilizando a assistência. O programa, criado como projeto piloto em 2010, tornou-se operacional neste ano. Shroff afirma que mesmo um nível inicial de proteção permite que o agricultor invista em tecnologias e obtenha melhores resultados.

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