Programas de recompra disparam: um termômetro do otimismo na bolsa?

Empresas listadas na B3 intensificaram os programas de recompra de ações, atingindo os níveis mais altos já registrados na história da bolsa. Analistas interpretam esse movimento como um sinal de que o mercado acionário brasileiro ainda oferece oportunidades, mesmo após a valorização expressiva observada neste ano. A recompra de ações é vista como um indicativo de que as empresas acreditam que suas ações estão subvalorizadas pelo mercado, preferindo investir em seus próprios papéis em vez de alocar recursos em outras áreas do negócio.
De acordo com especialistas, o número de programas de recompra em aberto atualmente é de 128, o que corresponde a mais de um terço das 360 maiores empresas listadas na bolsa. Desses programas, 126 foram anunciados ao longo de 2024, marcando o maior volume de anúncios em um único ano desde 2005. Adicionalmente, 67 programas já foram iniciados neste ano, alguns representando renovações de anúncios anteriores.
O histórico do mercado sugere que o aumento nos programas de recompra pode prenunciar um período positivo para a bolsa. Em 2008, por exemplo, em meio a um ano de turbulência e queda acentuada das ações, os anúncios de recompra dispararam para 80. No ano seguinte, o Ibovespa registrou uma alta de 82,66%. Cenário semelhante ocorreu em 2015, quando 92 programas de recompra foram abertos, impulsionando uma alta de 38,93% do índice em 2016. Em 2021, após 118 anúncios, o Ibovespa subiu 22%. E, seguindo os 126 anúncios de 2024, o Ibovespa já acumula uma valorização de quase 50% neste ano, e os programas de recompra permanecem em patamares elevados.
O aumento constante no volume de recompras reflete a forte geração de caixa das empresas. Inicialmente lideradas por empresas de commodities, as recompras agora são impulsionadas por setores mais perenes, como o de utilities (serviços públicos), que utilizam a recompra como forma de realocar capital.
Além da geração de caixa robusta, as ações apresentavam preços atrativos no início do ano, o que incentivou o aumento das recompras. A recompra, juntamente com a distribuição de dividendos, representa uma maneira de as empresas distribuírem os lucros aos acionistas. Ao recomprar e cancelar ações, a empresa reduz o número total de papéis em circulação, aumentando a participação dos acionistas na companhia e, consequentemente, o lucro por ação.
Apesar da expectativa de uma possível desaceleração no ritmo das recompras devido à valorização dos preços das ações, a tendência é que elas permaneçam em níveis elevados, dada a perspectiva de continuidade na geração de caixa das empresas nos próximos trimestres. No entanto, é fundamental analisar as condições em que a recompra é realizada, pois o aumento do endividamento ou a compra de ações a preços excessivos podem prejudicar os resultados futuros.
Um estudo recente revelou que, em novembro, 100 empresas possuíam R$ 98,5 bilhões em recompras em aberto. Adicionalmente, seis novos programas foram anunciados entre 16 de outubro e 19 de novembro, totalizando R$ 5,4 bilhões em compras potenciais de diversas empresas.
Estima-se que as recompras representem 1,23% do valor das ações do Índice Bovespa, beneficiando os investidores por meio da redução das ações em circulação, aumento dos preços e do lucro por ação. No acumulado do ano, as empresas já recompraram R$ 19,5 bilhões em ações, em comparação com R$ 30 bilhões no ano anterior, e ainda há R$ 79 bilhões a serem recomprados.
Os setores com as maiores recompras anunciadas em relação ao valor de mercado são o de utilities (6,2%), consumo de bens não duráveis (4,9%) e energia (2,9%). Em termos do total a ser recomprado, 27% correspondem a ações de utilities, 20% do setor financeiro e 18% de consumo de bens não duráveis.




