Redução do consumo de água revoluciona produção de leite

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Um simples copo de leite pode esconder uma realidade complexa: a quantidade de água necessária para produzi-lo. Estimativas indicam que cada litro de leite pode demandar entre 299 e 1.058 litros de água, uma variação significativa que revela um grande potencial de otimização no setor.

Um estudo detalhado investigou o consumo de água em 67 fazendas leiteiras localizadas em Lajeado Tacongava, Rio Grande do Sul. A análise, que considerou 192 combinações de práticas de manejo e cenários climáticos, mapeou oportunidades concretas para a redução do uso da água.

A “pegada hídrica” na produção de leite abrange muito mais do que a água diretamente consumida pelos animais. Ela engloba tanto a água utilizada na própria fazenda quanto aquela empregada no cultivo dos alimentos para o gado, conforme explicam os pesquisadores.

A análise divide o consumo em três categorias: água verde, proveniente da chuva e evaporada durante o crescimento das plantas, representando a maior parte (98,8%) em sistemas de pastagem; água azul, retirada de rios e poços para o consumo animal e limpeza; e água cinza, que seria necessária para diluir os poluentes gerados pelos efluentes.

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As fazendas analisadas apresentaram cenários diversos. A pesquisa revelou que a eficiência não está diretamente ligada ao tipo de sistema de produção (pastagem, semiconfinado ou confinado). Uma fazenda de pastagem bem gerenciada pode ter uma pegada hídrica menor do que uma confinada, demonstrando que a gestão é um fator determinante.

As práticas mais eficazes para reduzir o consumo de água incluem o aumento da produtividade de milho e soja (principais alimentos do gado), a redução do uso de água na lavagem da sala de ordenha, o aumento da produção de leite por vaca e o tratamento adequado dos efluentes.

O aquecimento global surge como um desafio adicional. O estudo aponta que o aumento das temperaturas entre 1,5°C e 2,5°C pode levar a um maior consumo de água pelos animais e afetar negativamente a produtividade do milho. A pegada hídrica azul, utilizada para o consumo direto e limpeza, pode aumentar de 1% a 2% devido às mudanças climáticas.

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O aumento da produtividade de milho e soja é apontado como a medida mais eficaz a curto prazo para melhorar a eficiência hídrica, dada a alta proporção de água verde utilizada no cultivo desses alimentos. Outras medidas incluem a otimização do tamanho do rebanho, a seleção de animais com melhor conversão alimentar e o uso racional da água na limpeza das instalações.

O tratamento de efluentes é crucial para reduzir a carga poluente e, consequentemente, a pegada hídrica cinza, que, embora represente uma pequena fração do total, pode aumentar significativamente se não for gerenciada adequadamente.

As ações para reduzir a pegada hídrica no setor leiteiro estão alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que incluem práticas agropecuárias resilientes, consumo e produção responsáveis e combate às mudanças climáticas.

A variação de até 72% na pegada hídrica entre as fazendas analisadas evidencia o grande potencial de melhoria no setor. Os dados gerados pelo estudo podem orientar políticas públicas e decisões de manejo, reforçando que a eficiência hídrica é essencial para a sustentabilidade da produção leiteira.

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