Sobretaxa persiste: entraves comerciais brasil-eua ameaçam competitividade
Apesar de um sinal de abertura por parte dos Estados Unidos, com a suspensão da tarifa de 10% para uma lista de 238 produtos, o impacto é considerado limitado por entidades representativas de diversos setores. O principal obstáculo para a retomada plena das relações comerciais permanece sendo a sobretaxa adicional de 40%, implementada anteriormente.
A medida beneficia diretamente cerca de 80 produtos brasileiros exportados para o mercado americano. No entanto, a sobretaxa de 40% continua a incidir sobre a grande maioria dos produtos, gerando preocupação e a necessidade urgente de ações diplomáticas mais incisivas. Setores avaliam que o Brasil deve intensificar o diálogo para buscar a eliminação completa das tarifas extras e restabelecer condições de concorrência justas no mercado dos EUA.
Apenas quatro produtos brasileiros obtiveram isenção total das tarifas: três tipos de suco de laranja e a castanha-do-pará. Os demais 76 produtos, incluindo cafés não torrados, cortes de carne bovina, frutas e hortaliças, continuam sujeitos à sobretaxa de 40%.
Na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os 80 itens que tiveram a tarifa de 10% suspensa representaram US$ 4,6 bilhões em exportações em 2024, o que corresponde a cerca de 11% do total das exportações brasileiras para os EUA. A CNI enfatiza que a manutenção da sobretaxa de 40% coloca o Brasil em desvantagem em relação a concorrentes que não enfrentam as mesmas barreiras tarifárias. A entidade também reforça a urgência de avançar nas negociações para um acordo mais abrangente.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) compartilhou uma visão semelhante, considerando o corte um avanço limitado, uma vez que produtos importantes da pauta de exportação do estado, como carnes e café, continuam a ser impactados.
Em contrapartida, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) adotou uma postura mais otimista, celebrando o restabelecimento da previsibilidade no comércio bilateral. A associação ressaltou que a redução “reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países”. Segundo a Abiec, a tarifação sobre a carne bovina brasileira diminuiu de 76,4% para 66,4% com a remoção da tarifa global de 10%.
O setor cafeeiro, por sua vez, mantém uma postura mais cautelosa e aguarda por maiores detalhes sobre o alcance da redução tarifária. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgou uma nota onde considera necessária uma análise técnica mais aprofundada. No mercado de café, a concorrência com outros grandes exportadores representa um desafio significativo. A tarifa estadunidense para os grãos brasileiros caiu de 50% para 40%, enquanto as tarifas foram zeradas para o produto colombiano e praticamente zeradas para o café vietnamita, o que aumenta a pressão sobre a competitividade do café brasileiro.




