Superendividamento: O que é, como prevenir e superar
Entenda o superendividamento, seus impactos, sinais de alerta e como a lei ajuda a renegociar dívidas de forma justa e segura.

O superendividamento é um problema que afeta milhões de brasileiros e pode comprometer seriamente a saúde financeira e o bem-estar familiar. Segundo o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil, elaborado pela Serasa, mais de 71,4 milhões de brasileiros tinham dívidas em aberto no fim de julho de 2023.
Quando essas dívidas fogem do controle, é comum que o sustento básico da família seja comprometido, tornando difícil encontrar uma saída.
Entender o que é o superendividamento, identificar seus sinais e buscar orientação profissional são passos essenciais para retomar o equilíbrio financeiro e proteger a vida pessoal, emocional e social.
O que é superendividamento
O superendividamento ocorre quando uma pessoa acumula dívidas além de sua capacidade de pagamento, não conseguindo honrar compromissos sem prejudicar necessidades básicas, como alimentação, moradia e saúde. Diversos fatores podem levar a essa situação, incluindo:
- Perda de emprego
- Falta de organização financeira
- Gastos excessivos com compras não essenciais
- Uso descontrolado do cartão de crédito
- Empréstimos com juros elevados
- Altos custos com tratamentos de saúde
O impacto do superendividamento vai além do financeiro, afetando bem-estar emocional, social e psicológico.
A pressão constante pode gerar estresse, ansiedade, insônia e depressão, além de prejudicar o relacionamento familiar e social. Segundo a pesquisa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro (Serasa):
- 83% têm dificuldade para dormir por causa das dívidas
- 78% apresentam pensamentos negativos frequentes
- 74% relatam dificuldade de concentração
- 62% sentiram impacto no relacionamento conjugal
- 61% vivenciaram crise e ansiedade ao pensar na dívida
Além disso, o superendividamento pode levar a ações judiciais e penhora de bens, comprometendo ainda mais a qualidade de vida.
Como identificar o superendividamento
Reconhecer o superendividamento nem sempre é fácil, pois ele se desenvolve gradualmente. Alguns sinais de alerta incluem:
- Atraso constante no pagamento das contas mensais
- Uso frequente de cartão de crédito para despesas básicas
- Acúmulo de novas dívidas mesmo pagando o mínimo das parcelas
- Contatos frequentes de credores ou agências de cobrança
- Redução ou inexistência de poupança e investimentos
Identificar esses sinais precocemente ajuda a buscar soluções antes que a situação se agrave.
A lei do superendividamento
Criada em 2021, a Lei do Superendividamento permite que o devedor renegocie todas as dívidas de uma só vez, criando um plano de pagamento compatível com sua renda, sem comprometer o sustento da família.
Antes dessa legislação, não havia mecanismo judicial eficaz para tratar o problema de forma global.
A lei abrange dívidas relacionadas ao consumo e instituições financeiras, incluindo:
- Contas de água, luz, telefone e gás
- Boletos e carnês de consumo
- Empréstimos bancários e financeiros, cartão de crédito e cheque especial
- Crediários e parcelamentos
Por outro lado, não são incluídas dívidas de má-fé ou relacionadas a:
- Impostos e tributos
- Multas de trânsito
- Pensão alimentícia atrasada
- Financiamento imobiliário
- Crédito rural
- Produtos e serviços de luxo
Benefícios da lei do superendividamento
A principal vantagem da Lei é permitir a renegociação de todas as dívidas simultaneamente, com supervisão judicial, evitando negociações isoladas. Entre os benefícios, destacam-se:
- Possibilidade de pagamento em até cinco anos
- Parcelas que comprometem no máximo 35% da renda mensal
- Planejamento financeiro sem precisar escolher qual dívida pagar primeiro
- Evita o efeito bola de neve das dívidas acumuladas
Direitos da pessoa superendividada
A legislação também assegura direitos importantes ao devedor:
✔ Renegociação coletiva das dívidas: O devedor pode propor um acordo que envolva todos os credores ao mesmo tempo, com o apoio de órgãos de defesa do consumidor. O objetivo é criar um plano de pagamento compatível com a renda, incluindo, quando possível, redução de juros, multas e encargos.
✔ Suspensão de cobranças e execuções: Durante a negociação, é possível suspender cobranças e ações judiciais, evitando pressões excessivas por parte dos credores e garantindo segurança ao devedor.
✔ Garantia do mínimo existencial: A lei assegura que uma parte mínima da renda, geralmente 25%, seja reservada para despesas essenciais como alimentação, moradia e saúde, preservando a dignidade e o bem-estar da pessoa superendividada.
✔ Proteção contra práticas abusivas: Instituições financeiras não podem forçar a contratação de novos créditos ou oferecer produtos que agravem o endividamento. A proteção é ainda maior para grupos vulneráveis, como idosos, doentes ou pessoas em situação de fragilidade financeira.
A legislação se aplica a dívidas de boa-fé relacionadas ao consumo e necessidades básicas, como:
● contas de água, luz, telefone e gás
● empréstimos e financiamentos de consumo
● cartões de crédito e parcelamentos
Por outro lado, não cobre dívidas provenientes de fraudes, pensão alimentícia, financiamento imobiliário, crédito rural ou produtos de luxo.
O processo de renegociação pode ocorrer de forma extrajudicial, por meio de órgãos como Procon e Defensoria Pública, ou judicial, com supervisão da Justiça. O prazo para quitação do acordo pode chegar a cinco anos, respeitando sempre a capacidade financeira do devedor.
Como sair do superendividamento
Sair do superendividamento exige planejamento, disciplina e ação estratégica. Embora não seja um processo rápido, é possível recuperar o controle das finanças pessoais e proteger a saúde financeira da família.
A chave está em compreender a situação atual, priorizar pagamentos, negociar com credores e adotar hábitos financeiros mais conscientes. Abaixo apresentamos passos práticos para enfrentar essa situação e medidas preventivas para evitar que as dívidas saiam do controle no futuro.
1. Faça um levantamento detalhado de ganhos e despesas
O primeiro passo para superar o superendividamento é mapear toda a sua situação financeira. Registre todas as dívidas, receitas e despesas, utilizando planilhas, aplicativos ou até mesmo cadernos.
Organize os gastos por categorias, como alimentação, transporte, moradia e lazer. Esse levantamento permite identificar:
- Dívidas mais urgentes e com juros altos
- Despesas desnecessárias que podem ser reduzidas
- Valores que podem ser negociados ou eliminados
Ter uma visão clara das finanças é fundamental para tomar decisões conscientes.
2. Ajuste seu estilo de vida à realidade financeira
Após entender sua situação, é necessário adaptar o orçamento à sua capacidade de pagamento. Priorize despesas essenciais e corte gastos supérfluos, evitando acumular novas dívidas.
Dicas práticas:
- Reduzir contas de água, luz, telefone e internet
- Evitar compras por impulso e o uso de crédito rotativo
- Planejar as compras e pagamentos dentro da renda disponível
Essa mudança de hábitos ajuda a conter o ciclo de endividamento e cria espaço para quitar débitos.
3. Troque dívidas caras por opções mais baratas
Uma estratégia eficiente é substituir dívidas com altos juros por alternativas mais acessíveis, como empréstimos com taxas menores.
Por exemplo:
- Quitar dívidas de cartão de crédito com juros elevados usando empréstimos consignados ou pessoais com juros baixos
- Consolidar débitos em uma única parcela que caiba no orçamento
Atenção: essa alternativa só funciona se não houver a tentação de contrair novas dívidas e se houver disciplina no pagamento do novo empréstimo.
4. Renegocie com os credores
Negociar diretamente com os credores é uma das formas mais eficazes de sair do superendividamento. Seja transparente sobre sua situação e proponha um plano de pagamento que seja compatível com sua renda.
Benefícios da renegociação:
- Possibilidade de descontos, parcelamentos e carências
- Organização das dívidas de forma sustentável
- Suspensão temporária de juros e multas em alguns casos
A Lei do Superendividamento permite que todas as dívidas sejam renegociadas simultaneamente, com supervisão judicial. Isso garante a criação de um plano que respeite o mínimo necessário para a sobrevivência da família.
5. Busque formas de aumentar a renda
Além de reduzir gastos, aumentar a renda mensal é essencial para quitar dívidas mais rapidamente. Avalie alternativas como:
- Trabalhos extras ou freelances
- Venda de produtos ou serviços usando habilidades próprias
- Aproveitamento de recursos existentes, como carro, bicicleta ou equipamentos domésticos
Essa estratégia acelera a quitação das dívidas e reduz o estresse financeiro.
Como evitar o superendividamento
A prevenção do superendividamento passa pela educação financeira e pelo consumo consciente. Adotar hábitos de planejamento e organização ajuda a manter o equilíbrio financeiro. Dicas para evitar dívidas fora de controle:
- Planeje mensalmente suas finanças, estabelecendo metas de economia e pagamento
- Faça orçamento doméstico detalhado, registrando receitas e despesas
- Crie uma reserva de emergência para imprevistos
- Evite compras por impulso e analise condições de pagamento
- Prefira produtos duráveis, recicláveis e ecologicamente responsáveis
- Reutilize, conserte ou doe itens em bom estado
- Separe resíduos e faça destinação adequada de materiais perigosos e eletrônicos
- Busque informações confiáveis sobre produtos, serviços e direitos do consumidor
Com disciplina e hábitos conscientes, é possível manter o controle financeiro e prevenir crises futuras.
Conclusão
O superendividamento é uma situação que vai muito além de questões econômicas, afetando saúde emocional, relações familiares e qualidade de vida. Identificar sinais precoces, buscar orientação e conhecer a Lei do Superendividamento são medidas fundamentais para sair dessa situação de forma planejada e segura.
Com informação, disciplina financeira e apoio profissional, é possível negociar dívidas de maneira equilibrada e recuperar o bem-estar financeiro e pessoal.
Perguntas Frequentes
Quem pode se beneficiar da lei do superendividamento?
Consumidores pessoas físicas, de boa-fé, que não conseguem pagar suas dívidas de consumo vencidas ou futuras, sem comprometer o mínimo existencial.
Quais dívidas podem ser renegociadas?
Dívidas de consumo, como contas de água, luz, telefone, gás, cartões de crédito, empréstimos e parcelamentos. Não incluem dívidas por fraude, pensão alimentícia, condomínio, financiamentos imobiliários ou garantias específicas.
Como funciona a renegociação?
O devedor pode negociar todas as dívidas juntas, de forma extrajudicial (Procon, Defensoria Pública) ou judicial, com plano de pagamento de até cinco anos, sem comprometer mais de 35% da renda mensal.
Quais direitos a lei assegura?
Direito de renegociar todas as dívidas, acesso a informações claras sobre custos e condições do crédito, proteção contra abusos dos credores e garantia do mínimo existencial.
Como solicitar a renegociação?
É necessário reunir documentos de todas as dívidas e buscar orientação em órgãos de defesa do consumidor para elaborar um plano de pagamento, que pode ser feito fora ou dentro da Justiça.
O que é o mínimo existencial?
É o conjunto de direitos básicos que garante uma vida digna, incluindo moradia, alimentação, saúde, educação, cultura e transporte, que não pode ser comprometido pelo pagamento das dívidas.






