Todos os países devem dinheiro, mas para quem?

Entenda por que todos os países do mundo possuem dívida e como esse sistema impacta a economia e a vida financeira global.

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Todos os países do mundo carregam algum tipo de dívida, e essa realidade desperta curiosidade e até desconfiança entre milhões de pessoas. Do Brasil, que possui mais de R$ 7 trilhões em dívida, aos Estados Unidos, com cerca de 30 trilhões de dólares, passando pelo Japão, com mais de 10 trilhões de dólares, a pergunta que surge é: para quem exatamente esses países devem e por que parece que ninguém sabe quem são os credores? A resposta, no entanto, é mais simples e lógica do que muitas teorias conspiratórias sugerem.

A dívida de um país funciona de forma bem diferente da dívida pessoal. Quando um governo precisa de recursos, ele não recorre a um banco como fazemos para financiar uma casa ou um carro. Ele emite títulos da dívida pública, que são promessas de pagamento com juros em datas futuras. Esses títulos podem ser comprados por bancos, fundos de investimento, companhias de seguro, outros governos e até cidadãos comuns, como acontece no Brasil com o Tesouro Direto. Ao investir nesses títulos, o cidadão se torna credor do governo, que se compromete a devolver o valor investido acrescido de juros.

Grande parte da dívida dos países é interna, ou seja, deve ser paga para instituições e pessoas dentro do próprio país. No Brasil, cerca de 85% da dívida pública é interna, pertencendo a bancos, fundos de pensão, seguradoras e milhões de investidores que compram títulos públicos. Isso significa que os pagamentos de juros circulam dentro da economia nacional, sendo uma redistribuição de recursos entre contribuintes e investidores, sem que o dinheiro saia do país.

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A dívida externa, que corresponde a aproximadamente 15% do total brasileiro, envolve credores estrangeiros e moedas estrangeiras, criando riscos cambiais. Se o real se desvaloriza frente ao dólar, por exemplo, o custo da dívida aumenta. Por isso, países como o Brasil buscam equilibrar a maior parte da dívida em moeda nacional, reduzindo a dependência de credores externos.

Todos os países recorrem à dívida porque governos precisam financiar investimentos de longo prazo em infraestrutura, educação, saúde e outros setores essenciais. Financiar esses projetos hoje permite gerar crescimento econômico, emprego e arrecadação futura, em vez de esperar anos para acumular recursos próprios. Estar endividado não significa falência; o mais importante é a relação entre a dívida e a capacidade de pagamento, medida pelo PIB. Países desenvolvidos frequentemente possuem dívidas superiores a 100% do PIB e ainda assim mantêm a economia funcionando.

Os verdadeiros credores são instituições que buscam aplicar recursos de forma segura e previsível, como fundos de pensão, seguradoras e bancos, que compram títulos públicos para garantir retornos aos seus clientes ou beneficiários. Além disso, o mercado secundário de títulos permite que esses papéis sejam negociados diversas vezes antes do vencimento, criando liquidez e indicadores sobre a confiança do mercado na capacidade de pagamento do governo.

Em resumo, a dívida mundial é parte de um sistema global interconectado, onde governos, bancos, empresas e cidadãos são simultaneamente credores e devedores. Não existe um “chefão” cobrando todos os países, mas sim uma teia complexa de crédito que permite financiar investimentos, suavizar choques econômicos e garantir a continuidade da economia mundial. O problema só surge quando a dívida é usada de forma irresponsável, financiando gastos improdutivos e criando riscos de calote.

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