Trigo argentino: safra recorde ameaça padrão do pão no brasil
A Argentina projeta uma safra de trigo sem precedentes para 2025/26, alcançando 24,5 milhões de toneladas. Esse volume robusto garante o fornecimento ao Brasil, seu principal comprador, mas levanta preocupações na indústria moageira brasileira sobre a qualidade do grão.
A Bolsa de Comercio de Rosario prevê que essa produção histórica permitirá ao país exportar cerca de 20 milhões de toneladas. O Brasil, com uma necessidade de importação de aproximadamente 5 milhões de toneladas este ano, permanece o destino prioritário dessas exportações.
“Estamos otimistas com a comercialização externa, que dependerá da demanda do Brasil”, declarou Bruno Ferrari, especialista em análises econômicas da Bolsa de Rosario.
Contudo, a perspectiva animadora do volume é contrastada com a realidade observada em campo. Uma missão técnica composta por representantes de moinhos brasileiros, o Giro Abitrigo – Argentina, inspecionou plantações e terminais portuários na província de Santa Fé, além de se reunir com especialistas do setor. A conclusão geral foi de que a ausência de segregação por qualidade durante a exportação, somada às condições climáticas, pode resultar em um trigo de qualidade inferior.
Eduardo Assêncio, superintendente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), alertou: “O volume é muito alto, mas temos a expectativa de um grão inferior. Para o Brasil, isso significa que os moinhos precisarão estar atentos e buscar soluções para garantir a qualidade ao cliente final”.
Este cenário exige atenção redobrada dos moinhos brasileiros. A Argentina é um fornecedor crucial, suprindo grande parte do trigo importado pelo Brasil, especialmente no Nordeste, onde responde por 85% do consumo.
Fábio Augusto Lopes, diretor financeiro do Grande Moinho Cearense e participante do Giro Abitrigo, ressaltou a importância da experiência: “A troca de experiências e o contato direto com produtores ampliaram meu entendimento sobre o produto e suas especificidades técnicas. Isso é crucial para enfrentarmos os desafios da qualidade.”
Apesar das inquietações, há indícios de melhoria em lotes recentes, especialmente no teor de proteína, segundo um representante do setor. A competitividade dos preços e o volume exportável da Argentina continuam sendo atrativos importantes.
A situação impõe um paradoxo ao setor: uma oferta abundante e preços competitivos, acompanhados de um desafio de qualidade. A missão técnica enfatizou a necessidade de aprimorar as estratégias de gestão e negociação para a próxima temporada.
“Finalizamos o Giro Abitrigo com um saldo muito positivo. O grupo pôde conhecer as condições da safra, o que possibilita uma melhor programação para a chegada dos lotes. Esse é o objetivo: oferecer conhecimento para que o negócio do trigo no Brasil siga crescendo em lucratividade e qualidade”, concluiu Eduardo Assêncio, da Abitrigo.
A safra recorde argentina surge, portanto, como uma notícia positiva que requer cautela, tornando 2026 um ano de avaliação da resiliência e expertise da indústria de moagem brasileira.



