Vacinas da covid-19 mostram potencial no combate ao câncer
Pesquisadores revelam que vacinas de mRNA, similares às utilizadas contra a Covid-19, demonstram capacidade de impulsionar tratamentos contra o câncer. A descoberta foi apresentada durante o Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) em 2025.
A equipe de pesquisa, liderada por Steven Lin e Adam Grippin, investigou o potencial desses imunizantes em atuar como “ativadores imunológicos”. A hipótese é que as vacinas podem “treinar” o sistema imunológico do corpo para identificar e destruir células cancerígenas, mesmo quando o mRNA não é diretamente direcionado aos tumores.
A ideia surgiu a partir de estudos conduzidos por Grippin durante seu doutorado, onde se explorou a capacidade do mRNA em estimular a resposta imune. Uma pesquisa envolvendo mais de mil pacientes tratados entre 2019 e 2023 revelou que pacientes com câncer que receberam vacinas de mRNA contra a Covid-19, dentro de um período de até 100 dias após o início da terapia com inibidores de checkpoint imunológico, apresentaram o dobro da probabilidade de estarem vivos três anos após o início do tratamento.
Os checkpoints imunológicos são mecanismos regulatórios que controlam a ativação e inibição das células de defesa do organismo.
Segundo Grippin, este estudo demonstra que vacinas de mRNA contra a Covid-19 podem instruir o sistema imunológico dos pacientes a combater o câncer. A combinação dessas vacinas com inibidores de checkpoint imunológico resulta em respostas antitumorais potentes, associadas a melhorias significativas na sobrevida de pacientes oncológicos.
A descoberta levantou a possibilidade de que outros tipos de vacinas de mRNA possam ter efeitos semelhantes. A ampla utilização das vacinas contra a Covid-19 baseadas em mRNA criou uma oportunidade para testar essa hipótese.
O estudo analisou históricos de pacientes do Centro de Câncer MD Anderson, com o objetivo de identificar se os pacientes que receberam as vacinas de mRNA contra a Covid-19 tiveram uma sobrevida maior em comparação com aqueles que não foram vacinados.
Após análises pré-clínicas, os pesquisadores descobriram que as vacinas de mRNA funcionam como um “alarme”, alertando o sistema imunológico para reconhecer e atacar as células cancerígenas. Em resposta, as células cancerígenas começam a produzir a proteína de checkpoint imunológico PD-L1, que atua como um mecanismo de defesa contra as células de defesa.
No entanto, existem inibidores de checkpoint imunológico desenvolvidos para bloquear o PD-L1, criando um ambiente favorável para que esses tratamentos liberem o sistema imunológico contra a doença.
Embora os mecanismos envolvidos ainda não sejam totalmente compreendidos, o estudo sugere que as vacinas de mRNA contra a Covid-19 representam ferramentas promissoras para reprogramar as respostas imunológicas antitumorais.
Os cientistas planejam agora realizar um ensaio clínico de Fase III, mais rigoroso, para confirmar esses resultados e determinar se a vacina de mRNA contra a Covid-19 deve ser incorporada como parte do tratamento padrão para pacientes com câncer.
Em um estudo inicial, que incluiu diversos tipos de câncer, pacientes vacinados em até 100 dias após o início da imunoterapia foram comparados com aqueles que não receberam a vacina. Os resultados mostraram uma diferença significativa. No grupo de pacientes com câncer de pulmão avançado, por exemplo, os 180 vacinados apresentaram uma sobrevida média de 37,3 meses, em comparação com 20,6 meses observados nos 704 pacientes não vacinados.